Quero compartilhar uma história bacana de como um homem, professor de inglês, mudou minha vida para melhor. Uma experiência que não apenas revigorou meu desejo e entusiasmo pela língua inglesa, mas também uma prova que o futuro de uma nação está nas mãos de professores.
Mas por que estou escrevendo sobre isso aqui no blog? Tomei conhecimento semanas atrás que o prof. Kássimo faleceu. Essa notícia me deixou triste pelo o que esse prof. representou para mim durante minha infância.
Mas o que ele fez por mim? Deixe-me explicar. Para isso, vamos voltar no tempo, para 2005, em São José da Coroa Grande – PE.
São José da Coroa Grande, Pernambuco – 2005
Os leitores mais antigos do Blog devem saber que sempre fui estudante de inglês autodidata, ou seja, nunca fiz curso de inglês em uma escola de idiomas. Isso é algo que coloco abertamente, tanto no final dos artigos que escrevo aqui no Blog como também na página Sobre.
Ser um estudante autodidata não é algo que me envergonha, afinal, por que deveri envergonhar?! Na verdade, me inspira ainda mais. Saber que aprendi e continuo aprendendo algo que muitos pagam fortunas é prazeroso e ao mesmo tempo revigorante.
Entretanto, poucos devem saber que o motivo de eu nunca ter feito um curso de inglês quando comecei meus estudos não foi por ideologia ou por simpatizar com o estudo autodidata, mas simplesmente por não ter condições de pagar um curso.
Em 2005, eu morava em São José da Coroa Grande. A escola de idiomas mais próxima ficava em Barreiros – PE. O curso custava em torno de R$ 120,00, isso sem falar as passagens de “Besta”, modo como é chamado as Vans por lá =P, para ir e voltar, ou seja, o curso era uma fortuna para um menino de 13 anos com uma família grande, mãe solteira e assalariada.
Observando esse cenário, desde o início eu sabia que levaria muito tempo para poder bancar um curso em uma instituição formal. Foi assim que eu optei então por começar a estudar por conta própria, pois era a única saída que eu tinha para atingir meu objetivo. Para aprender inglês, eu tinha que me virar/estudar como podia/desse.
Estudando como pode
E sabe como é o sistema do “estudando como pode”?
- Indo à biblioteca pública da cidade em busca de livros em inglês;
- Lendo livros relacionados à língua inglesa, muitos de mil oitocentos e bolinha;
- Enchendo o saco do único professor de inglês do colégio público;
- E claro, perturbando as poucas pessoas na cidade que conhecem/sabem inglês.
E é exatamente nesse último ponto que o prof. Kássimo se encaixava, pois ele era uma das poucas pessoas da pequena São José da Coroa Grande que não apenas dominava a língua inglesa, mas também lecionava aulas particulares para os barões da cidade.
Professor de inglês Kássimo
O prof. Kássimo é algo que infelizmente não é comum em cidades grandes. Já morei em São Paulo, Fortaleza e Recife e geralmente a “dinâmica” dessas cidades é: cada um por si. Felizemente existem, ainda que em sua minoria, professores que fazem o que ele fez.
E o que ele fez? Simples, ele ajudava quem era interessado. Ele me ajudou bastante. Ele via um garoto pobre, sem muita perspectiva de futuro, porém com um interesse imenso sobre o idioma falado nos Estados Unidos e sua cultura.
Em um período de alguns meses, o prof. Kássimo me ajudou dando conselhos sobre o que eu deveria estudar, avaliou minhas traduções de músicas do inglês para o português, analisava se minha tradução estava de acordo com o contexto, e principalmente, sempre me deu incentivo de não desistir, independente das dificuldades.
Esse, acredito eu, foi uma das suas principais contribuições para meus estudos e minha vida. Saber que aprender inglês, ou qualquer outro assunto, é possível tendo determinação, bastante força de vontade, garra e foco.
Por meio de suas explicações e conselhos, ele me ensinou que o fato de ser negro e pobre não podia me impedir de sonhar e lutar para atingir meus objetivos. Na época, o meu objetivo principal era aprender inglês, mas se tirássemos o inglês e colocássemos qualquer outra palavra no lugar, os conselhos que ele me passou seriam mais que válidos.
São contribuições como essas que fazem os professores tão importantes para a sociedade. Não apenas pelo domínio de assuntos ao qual nós estudantes não temos, mas sim, porque professores podem tanto nos inspirar a ser profissionais melhores, como também podem nos inspirar a ser cidadãos melhores.
Fica a lição
No meu caso, o exemplo e o encorajamento que o Prof. Kássimo me passou me ajudou em ambas tarefas, pois foi graças aos seus incentivos e conselhos, que me ajudou a revigorar ainda mais minha gana em aprender inglês e que me levou a hoje falar, ler e escrever com confiança, clareza e habilidade nesse idioma.
Por último, quero dizer que estudar inglês sozinho não é o fim do mundo, porém, se você tem um professor que possa te auxiliar, motivar e informar, aproveite-o. Não são todos que tem esse privilégio em nosso país, por isso, não desperdice essa oportunidade.
Bons estudos! 🙂
Ueritom Ribeiro Borges
Que história bonita, Renato!
Sempre fico feliz quando vejo histórias de superação como essa. E também quando vejo professores que são exemplos para nós, que nos inspiram a aprender e a sermos pessoas melhores.
Abraço,
Ueritom
Renato Alves
Obrigado Ueritom!
Como sabe, eu sou extremamente a favor da pessoa estudar sozinho, porém, não podemos nos esquecer ou deixar de reconhecer o valor do professor.
Com palavras, dicas e sugestões, os professores têm um impacto grande em nossas vidas. 🙂
Ueritom
Verdade, Renato.
Voltando aqui para mencionar meus dois professores de inglês que tive na escola pública que estudei também: a professora Roseli, que me deu aulas de inglês na sétima e na oitava séries, e também o Professor Emerson, que me deu aulas de inglês em todo o Ensino Médio.
Muito do que sei devo à dedicação que eles tiveram para me ensinar.